quarta-feira, 30 de julho de 2008

Falta de professores para ensino de música coloca em xeque viabilidade da disciplina

25/07/2008 - 06h10
Mariana TramontinaEm São Paulo

É preciso apenas de um sinal positivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o ensino da música se torne obrigatório nas escolas de educação básica do país. Já aprovado na Câmara dos Deputados, o projeto atrai uma legião de defensores, mas ainda há pontos que colocam em xeque a viabilidade de implantação. Professores capacitados, infra-estrutura nas escolas públicas, material didático e plano de aula são alguns dos pontos questionados por especialistas da área.

O projeto prevê que as aulas deverão ser ministradas por profissionais com formação específica na área, mas para a professora Cristina Grossi, vice-presidente da Abem (Associação Brasileira de Educação Musical), a carreira não é atraente. "O salário é baixo para uma aula que é desgastante", afirma.Ela conta que os formandos em música têm, hoje, duas opções: seguir uma carreira de musicista ou dar aula em escola técnica ou conservatório. Este mesmo profissional que vai ministrar uma aula no ensino básico, segundo Grossi, deve ter em mente que a abordagem é diferenciada para cada público."Além de ter de entender o universo da educação básica, esse professor pode se deparar com problemas de droga ou de comportamento dos alunos. Os cursos têm que ensinar a lidar com essas dificuldades sociais também. Faz parte da pedagogia", defende.

Situação dramática

Dilvo Ristoff, diretor de Educação Básica Presencial da Capes (órgão que cuida também da formação de professores no país), apresentou recentemente um estudo sobre a dificuldade que as escolas terão para se adaptar à implantação de novas disciplinas obrigatórias, como sociologia e filosofia.Para ele, o ensino de artes como um todo é dramático no Brasil. "Temos 78.740 professores formados e, desses, só 16.678 estão atudando. Precisamos mais que o dobro para cobrir a demanda". Ristoff acredita que falta atratividade na carreira, como bom salário, um sistema de progressão da carreira, ambiente de trabalho agradável e seguro, além da valorização da profissão.O projeto estabelece um prazo de três anos para que as escolas se adaptem à nova regra. "É preciso de um tempo para a transição maior do que quatro anos, que é o tempo de uma graduação. Se essa lei entra em vigor agora, vai faltar professores e a primeira geração se forma só em 2013. E precisamos levar em conta a evasão dos estudantes durante o curso".

Plano de aula

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da Educação Nacional dá autonomia para que as escolas decidam sua proposta pedagógica, mas para a professora de piano da Faculdade de Música da UnB (Universidade de Brasília) Beatriz Salles, o programa da aula de música deve ser discutido antes de colocar em prática."O tipo de música e de aula é que preocupam. Há grupos que propõem a volta do coral, mas nem todo mundo tem que fazer a mesma coisa", fala. Salles lista uma série de atividades que podem ser desenvolvidas com os alunos. "Você pode trabalhar com coral, perspectiva de audição, vocal, instrumento musical, percussão corporal e até produção de rádio dentro da escola".Segundo a professora, que acompanhou a tramitação do projeto no poder público, as escolas devem reservar um espaço para as aulas. "Pode ser um salão ou um auditório. E tem que estabelecer horário como todas as outras disciplinas porque é curricular. Aula de música é necessário, não é um luxo".

Fonte: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/07/25/ult105u6743.jhtm

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O ensino musical em debate

O ensino musical em debate

Alteração em lei torna o ensino musical obrigatório nas escolas.
Ney Arruda
Especial para o Diário de Cuiabá.

Nestes dias em férias de julho, o ócio toma conta das horas. No aconchego do lar, a pedida é uma leitura. Isso mesmo: um livro sempre é uma grande companhia para esclarecer o ser humano. Com a alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei n.º 9.394/96)houve uma mudança para tornar o ensino da música obrigatório nas escolas brasileiras. Interessante que a temática, do ponto de vista acadêmico, há muito era objeto de pesquisa e debate. Assim, uma série de títulos está nas livrarias percorrendo o assunto. Hoje comento em especial a excelência da obra: “Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação”. A autoria é do professor Carlos Eduardo de Souza Campos Granja que é matemático, educador musical e contrabaixista atuando na área do jazz. Trata-se de uma dissertação de mestrado em educação defendida perante a USP – Universidade de São Paulo. A obra com 06 capítulos e 158 páginas vem no ótimo formato de bolso para levar e ler onde se queira. A Editora ‘Escrituras’ (SP) aposta muito neste mercado, tanto que dedicou algumas publicações para o gênero em sua “Coleção Ensaios Transversais”. Como qualquer trabalho de investigação científica, o Prof. Campos Granja introduz a problemática do ensino musical vislumbrando o que poderia trazer de bom a estratégia pedagógica de musicalizar a escola. Evidente que o recorte teórico-epistemológico não poderia deixar de realizar uma abordagem histórica do tema. Assim, o olhar do mestre volta-se para a prática da música na Antiguidade. A pesquisa avança rumo ao explorar da idéia de ‘percepção’ humana. Como o indivíduo produz a cognição de sentidos da música através de seu próprio corpo. Carlos Eduardo, feita essas considerações, então busca refletir sobre a escuta musical. O que ouvimos e como ouvimos música na atualidade. É fato corrente nas universidades de que o segredo de um bom trabalho acadêmico é o professor orientador. Bem, mas se o pesquisador-orientado não tiver inspiração, de nada valerá um docente ‘Phd’ na orientação. Resulta que a pesquisa aqui enfocada foi feita com integral planejamento. Pois, a seguir Campos Granja propõe como harmonizar de forma transdisciplinar a valorização da música no ambiente escolar. O arremate pauta-se na alusão de projetos concretos. Exatamente, após um percurso teórico, o cientista demonstra as qualidades de sua investigação ao demonstrar algumas possíveis práticas pedagógicas envolvendo percussão corporal, dança e percepção musical. Nestes tempos em que focos de empreendedorismo privado coexistem no interior da iniciativa pública é preciso meditar sobre os caminhos da educação musical. Diz o mestre Campos Granja: “uma proposta de musicalizar a escola não pode se limitar apenas à inclusão da Música como disciplina escolar. Ela deve implicar um projeto de integração que ocorra não somente no nível de conteúdos, mas também no nível da construção do conhecimento. É fundamental que haja uma articulação entre os momentos de elaboração conceitual e as atividades de natureza perceptiva.” Desta forma, continuo conclamando as autoridades governamentais do Estado de Mato Grosso, bem ainda a sociedade civil organizada para a necessidade de materialização da Escola de Música Estadual! Irrefutáveis os benefícios vindouros de cidadania e cultura para o povo desta terra!

SERVIÇO:
O QUE É?
Livro: “Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação”
AUTOR: Carlos Eduardo de Souza Campos Granja
ONDE: http://www.escrituras.com.br/

*Ney Arruda é professor universitário, doutorando pela Universidad de Burgos (Espanha), violinista cuiabano e colabora com o DC Ilustrado, (neyarruda@gmail.com)

FONTE: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=322146