domingo, 21 de junho de 2015

Contando o livro- Alucinações Musicais

Olá! Neste post aqui falei um pouco do que se trata o livro "Alucinações musicais", do Oliver Sacks. Hoje vou falar da primeira parte do livro intitulada "Perseguidos pela música". Nesta parte Sacks relata como surgiu seu primeiro contato com essas ideia "louca" de investigar a música pelo prisma patológico, da doença.

O primeiro capítulo já começa com o relato de um médico de 42 anos que após ser atingido por um raio passou a "sentir, por dois ou três dias, um desejo insaciável de ouvir música de piano" (p.18). Isso seria normal se este já fosse o seu costume, porém ele raramente ouvia música clássica, tivera aula de piano quando criança e curtia mesmo rock! O relato é extenso, mas tenho que destacar o final dessa história. O médico autodidata apresentou um concerto em que tocou o Scherzo em si bemol, de Chopin e uma composição própria intitulada "Rapsódia, Opus I". O autor diz que após sua apresentação muitos quiseram ser atingidos por um raio...(para mim, nem tanto...haha).


No capítulo 2, Oliver Sacks faz relação com a música e convulsões, ou seja, ouvir música em alguns dos seus pacientes provocava convulsões. Mas não qualquer música. Teria que ser uma música específica, num tom específico e numa intensidade específica, não importando qual. Um de seus pacientes, músico profissional relata: "Música explode em minha cabeça por cerca de dois minutos. Adoro música; fiz minha carreira com ela, por isso parece certa ironia que a música também se tenha tornado o meu carrasco" (p.33)

Outros tinham medo de música, chamado pelo autor como "epilepsia musicogênica". Este é o capítulo 3.Como a  música induzia ataques epiléticos, os pacientes fugiam de toda e qualquer insinuação da mesma, pois saberia qual seria o próximo passo, um ataque epiléptico.

O capítulo 4 chama-se, Música no cérebro: imagens mentais e imaginação. Aqui prefiro transcrever alguns trechos que achei bem interessantes:

"Há pessoas que mal conseguem manter uma melodia na cabeça, enquanto outras podem ouvir sinfonias inteiras na mente, quase tão detalhadas e vívidas quanto as ouvidas por meio da percepção real" (p. 42)

"Músicos profissionais geralmente possuem o que a maioria de nós consideraria um talento excepcional para as imagens musicais. Tanto assim que muitos compositores começam a compor, ou criam toda uma obra, não com um instrumento, mas na mente." (p.43)

"(...)imaginar música pode ativar o córtex auditivo quase com a mesma intensidade da ativação causada por ouvir música. Imaginar música também estimula o córtex motor,e, inversamente, imaginar a ação de tocar música estimula o córtex auditivo." (p.44)

O capítulo 5 é bem esclarecedor quando se refere àquela musiquinhas que ficam tocando na nossa mente, mesmo quando não queremos ouvi-las. Veja o que Sacks explica no primeiro parágrafo do capítulo:

"Às vezes a imaginação musical normal transpõe um limite e se torna, por assim dizer, patológica, como quando determinado fragmento de uma música se repete incessantemente por dias a fio e as vezes nos irrita. Essas repetições, em geral uma frase ou tema breve bem definido de três ou quatro compassos, tendem a continuar por horas ou dias, circulando na mente, antes de desaparecer pouco a pouco. Essa repetição interminável e o fato de que a música em questão pode ser banal ou sem graça, não nos agradar ou até mesmo ser abominável, indica um processo coercivo: a musica entrou e subverteu uma parte do cérebro, forçando-o a disparar de maneira repetitiva e autônoma (como pode ocorrer com um tique ou uma convulsão). Um jingle publicitário ou a musica-tema de um filme ou programa de televisão podem desencadear esse processo para muitas pessoas." (p.53). Isso me lembra as músicas-chiclete...(aposto que muita gente aqui se identificou! rsrs)

"Obviamente, na própria música existem tendências inerentes à reiteração. nossos poemas, baladas e canções são ricos em repetições. Cada obra de música clássica possui suas marcas para indicar as repetições. Cada obra de música clássica possui suas marcas para indicar as repetições ou variações sobre um tema, e os nossos maiores compositores são mestres da repetição; as rimas infantis e as cantigas que ensinamos às crianças pequenas têm coros e refrões. Somos atraídos pela repetição, mesmo quando adultos; queremos o estímulo e a recompensa várias vezes, e a música nos dá." (p.60)

O sexto é o último desta primeira parte do livro e é o mais extenso, mas não o menos interessante. Nele, Oliver Sacks relata experiências de seus pacientes que sofriam com alucinações musicais. Inclusive este é o título do capítulo. Uma das pacientes tinha perda auditiva e para Sacks, por conta dessa surdez "a parte auditiva de cérebro, privada da usual entrada de dados externos, começara a gerar uma atividade espontânea própria, que assumia a forma de alucinações musicais, sobretudo memórias musicais de sua juventude." (p. 65, 66)

As alucinações, em sua maioria, ocorrem em idosos e geralmente associada à perda auditiva e é claro que toda regra tem sua exceção. E foi essa exceção que me chamou mais atenção nesse capítulo. Um de seus pacientes, uma criança de 9 anos, sofria de alucinações musicais desde os 5 anos! Os pais relataram que quando andavam de carro, o filho "gritava, tapava os ouvidos e pedia para desligarem o rádio, que não estava ligado" (p.82). Sua mãe, anos mais tarde escreveu para o Dr. Sacks relatando a situação de seu filho, agora com 12 anos: ainda ouvia música incessantemente e só não conseguia suportá-la quando estava estressado com a escola. Agora o trecho que mais me chamou a atenção "(...) quando Michael ouve música, seu cérebro automaticamente a grava e ele pode recordá-la ou tocá-la mesmo depois de anos, como se houvesse acabado de ouvi-la. Ele adora compor música, e tem ouvido absoluto"!!! (p.83- nota de rodapé).

"As alucinações musicais tendem a refletir as preferências da época, mais que as do indivíduo". (p.94) Bom, espero não sofrer disso. Já pensou se eu com 80 anos começar a ouvir na minha cabeça "ai se eu te pego"??!! Ainda bem que esse tipo de música não é da minha preferência pessoal, mas convenhamos que de tanto que tocaram essa música, ela pode estar escondidinha em algum lugar do meu córtex! HAHAHA

Se eu pudesse eu escreveria todo o livro aqui para vcs lerem. Mas como não posso e nem devo (tenho que respeitar os direitos autorais do escritor) sugiro a você que ficou interessado e curioso e que queira se aprofundar na leitura, que compre o livro aqui (ou então vai no google, coloca o nome do livro. Não vai faltar opção de sites para comprar.)




Não sei se essa é a capa do original em inglês (se alguém aí souber, por favor, me informe), mas este é o título original e o senhor aí da capa é o autor Oliver Sacks. 

Sobre o autor (Fonte: http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=00429)
Oliver Sacks nasceu em Londres, em 1933. Formou-se em medicina no Queen’s College e em 1960 emigrou para os Estados Unidos, prosseguindo os estudos médicos. Mora em Nova York, onde é professor de neurologia clínica na Columbia University. Com a publicação de Enxaqueca, em 1970, iniciou uma brilhante carreira de escritor. Seu livro Tempo de despertar inspirou o filme homônimo com Robert De Niro e Robin Williams.
http://www.oliversacks.com/
https://www.facebook.com/oliversacks
https://twitter.com/OliverSacks

No próximo post vou falar sobre a segunda parte do livro "A variação da musicalidade".